Instituto de Infectologia Emílio Ribas identificou o primeiro paciente com HIV do Brasil
Por J. Paulo Carvalho
Uma das casas de saúde mais tradicionais de São Paulo completa 130 anos em 2010. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, localizado no bairro da Consolação, foi o primeiro hospital público da cidade. Construído para tratar doenças infecto-contagiosas ainda na época do Império, hoje ele é referência para todo o País na área da saúde.
Fundado em 1880, quando São Paulo contabilizava apenas 50 mil habitantes, o Emílio Ribas tinha o objetivo de curar pacientes de varíola. Posteriormente, o hospital passou a atender vítimas de outras enfermidades, como sarampo, coqueluche, varicela, raiva e até problemas respiratórios.
O médico Arary Tiriba, que trabalhou mais de 30 anos no Emílio Ribas, conta que o hospital está paralelamente ligado à história da cidade. Exemplo disso é o surto de meningite da década de 70: “Eu era recém-formado e tinha acabado de chegar. Nós passamos por uma violenta epidemia de meningite. O hospital ficou abarrotado de gente. Crianças eram colocadas sobre bancadas de aço, na enfermaria. Havia um grande temor da população que, consequentemente, procurava o hospital”, afirma Tiriba.
Para a pesquisadora e uma das autoras do livro Emílio Ribas, 130 anos de História da Saúde Pública no Brasil, Mônica Cytrynowicz, não há como pensar no desenvolvimento da saúde no País, sem traçar uma associação com o hospital: “O Emílio Ribas está inteiramente relacionado ao tema. Da descoberta do primeiro paciente com HIV no Brasil, em 1982, à epidemia do vírus H1N1, no ano passado, tudo passa por ele”, diz Cytrynowicz.
Importância para a saúde
Emílio Ribas foi um dos nomes mais importantes da saúde no Brasil. Médico dedicado ao combate de doenças que assolavam toda a população, seu reconhecimento se dá a partir do século 19, quando, ao lado de Adolfo Lutz, se deixa ser picado por insetos infectados com o sangue de portadores da febre amarela para provar que a doença era transmitida pelo mosquito, não pela contaminação da água ou roupa suja.
Segundo Valdir Cimino, Presidente da Associação Viva e Deixe Viver, Emílio Ribas contribuiu historicamente com o desenvolvimento as saúde no País: “Ele deixou herança importante na medicina e também na atuação voluntária. Qual médico permitiria ser picado para comprovar uma tese?”, relata.
Ainda de acordo com Valdir Cimino, além da questão histórica e social, Emílio Ribas contribuiu no combate ao preconceito com as doenças infecto-contagiosas: “As doenças infecto contagiosas, cada uma em sua época, sempre causaram temor à população, desde o tempo em que a instituição foi fundada. A febre amarela daqueles dias deu lugar a outras moléstias, como a meningite e, mais recentemente, o HIV, que teve o primeiro caso descoberto no Brasil em 1982. Acho que o hospital teve papel fundamental para pelo menos demonstrar à sociedade que essas doenças são perfeitamente tratáveis”, relatou Cimino.
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