Idosos no mercado de trabalho

Por Aline Parenti


“Ainda sou capaz de fazer muitas coisas, não sou inútil”. Foi assim que João Féba Neto, 68, encerrou a entrevista. Ele afirma ser capaz de realizar, tranquilamente, trabalhos hoje feitos por jovens. A população idosa cresceu nos últimos anos, mas o mercado de trabalho ainda não se adaptou ao novo cenário. A terceira idade ainda é vista como incapaz de trabalhar e de acrescentar algo ao mercado. Continuam sendo consideradas limitadas e improdutivas.


Silvestre, professor de geriatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disse que há uma mudança no crescimento populacional. “Até 1960, todos os grupos cresciam de forma semelhante, o que deixava estável a estrutura da pirâmide etária. De lá para cá, o grupo com mais de 60 anos foi o que mais cresceu proporcionalmente no Brasil, enquanto a população jovem encontra-se em um processo de desaceleração”. O geriatra também afirma que o novo século inicia com crescimento oito vezes maior da população idosa, comparado ao crescimento dos jovens.


O que se tem observado é uma diminuição nas taxas de fecundidade, natalidade e mortalidade. As novas tecnologias proporcionam mais esperança de longevidade. Muitas doenças têm sido curadas e novos medicamentos e tratamentos são descobertos todos os dias, aumentando a expectativa de vida de vida da população. O envelhecimento da população mundial apresenta um novo desafio para os países. A chamada “crise da velhice” pode acarretar problemas na Previdência Social, tornando-se uma barreira para o crescimento econômico. Porém, algumas empresas no Brasil encontraram uma forma de driblar esse problema.


A rede de fast-food Pizza Hut tem selecionado aposentados para trabalhar em seus estabelecimentos. Dora Santini Tavares, 76 anos, faz parte do grupo de colaboradores da empresa. A aposentada afirma que se sente realizada com o emprego e que pouco a pouco ela está conquistando a confiança de todos. “No meio dos meus colegas de trabalho, uma 'rapaziada' de 20 anos, conquistei espaço no apertado mercado de trabalho com minha simpatia, vontade de viver e determinação. Não é bom depender de ninguém”. A aposentada ainda afirma que o dinheiro extra ajuda bastante. “O salário que eu recebo é para comprar roupas, perfume e não ter de pedir dinheiro para o meu marido aposentado. O plano de saúde e a cesta básica são considerados um alívio nas minhas contas do mês”.


Assim como Dora, muitos outros aposentados se encaixam no grupo de pessoas economicamente ativas (PEA), ajudam a complementar a renda familiar. Segundo um levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e da Fundação Seade, os setores que mais empregam aposentados com mais de 60 anos são os de serviços (52,8%), comércio (22,3%) e indústria (11,9%). De acordo o diretor do Dieese, Ganz Lúcio, em entrevista ao site do órgão, o número de pessoas com mais de 60 anos atuando no mercado é muito grande. “Existem mais idosos trabalhando na região metropolitana de São Paulo do que toda a população de muitas cidades do interior. O idoso tem uma participação importante na renda da família, apesar de o rendimento dele ser menor do que o de outras faixas etárias”, diz.


O estudo também aponta que o expediente de trabalho do idoso não difere muito dos mais novos. A carga horária é, em média, de 44 horas semanais. Para contribuintes com mais de 60 anos, a jornada chega a 41 horas por semana. Os idosos permanecem por mais tempo no emprego, cerca de 12 anos. As outras faixas etárias permanecem em média nove anos no mesmo local.


Estima-se que até 2050 a população idosa mundial será de 1,9 bilhão. Ou seja, a cada cinco pessoas, uma será terá mais de 60 anos. A preocupação agora é como alcançar a melhor idade em condições saudáveis. A ciência, por enquanto, consegue retardar alguns efeitos do envelhecimento, mas como preservar a independência e autonomia do individuo?


Idosos como o seu João e dona Dora não gostam e não querem se tornar dependentes de seus familiares. Faz-se agora necessário uma mudança na estrutura social. Pessoas mais experientes exigem o seu espaço para desenvolver, criar e ter uma vida mais prolongada e saudável, respeitada pelos demais. Os aposentados que possuem um emprego, uma atividade esportiva ou cultural são menos propensos a desenvolver depressão ou outra doença de fundo emocional, o que aumenta sua expectativa de vida.


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