A arte, a terra e a espiritualidade

Por Thalita Féba


Pintar um quadro, escrever um poema, cantar uma música. A arte pode ser expressa de várias formas. Uma breve apresentação de rua ou uma luxuosa exposição, uma simples venda ou só admiração.



Uma artista plástica brasileira encontrou um jeito único de simplesmente iniciar uma obra, e deixar que a natureza aja de forma incontrolada sobre ela. Criando assim uma identidade única em cada uma de suas produções. Este é o objetivo de Cristina Oiticica, que transforma misticidade em arte.

Todos os quadros produzidos por Oiticica são enterrados em lugares inusitados: às margens de rios, bosques, florestas e montanhas, ficando em média de seis meses a um ano. Após esse período, Cristina volta ao local e os desenterra. Com um misto de surpresa e ansiedade, confere os resultados inimagináveis que são produzidos após o desenterro de seus quadros."A cada obra retirada, posso sentir uma emoção diferente, encontro raízes que entranham na trama da tela, bichinhos que deixam a sua marca, terra, folhas e flores que grudaram e se transformaram, sombras causadas pela umidade, cores que mudaram tonalidades e formas totalmente diferentes. Sem dúvida, é a impressão digital da natureza" afirma.


Espiritualidade x Arte


Traçando um perfil espiritualista, ela declara que parte de sua inspiração também é baseada nas obras do escritor francês André Gide, que define a arte como "a colaboração entre Deus e o artista, quanto menor interferência do homem, melhor". Cristina se baseia no universo feminino para criar.



A artista define a natureza como ventre natural de todas as suas obras. "Quando enterrei na Amazônia por um ano, os trabalhos tinham raízes, bichos que comeram a tela, a coloração mudou totalmente. enterrar um quadro ou deixá-lo na natureza nada mais é que uma total entrega e oferenda dele para que a energia feminina da terra trabalhe junto comigo. Eu vejo uma coisa mais séria que simplesmente a transformação visual/estética dele. Acho que de alguma maneira, cada obra carrega alguma coisa muito especial do lugar aonde foi enterrada", relata, emocionada.

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