Diálogos de Elevador

Por Zaqueu Fogaça


O elevador é um ambiente estereotipado por abrigar conversas estranhas e de baixo nível intelectual. Mas, afinal, será que ele é o fator determinante para o nível dos diálogos que ocorrem em seu interior? Para compreender seu papel como meio de transporte e de sociabilidade entre seus passageiros é necessário confrontá-lo com outros fatores; como sua localização e, principalmente, seus passageiros.

O primeiro fator que deve ser levado em consideração para analisar os devaneios elevadorianos é a parte externa do elevador, ou seja, o prédio que o abriga. Se for um condomínio residencial de periferia, a conversa terá um determinado nível de debate; mas se o elevador estiver localizado no Museu do Louvre, o nível da conversa será totalmente diferente. A primeira percepção que se tem ao fazer esta comparação, é que o nível do discurso que ocorre no elevador é influenciado pela localização do mesmo.

No entanto, o elemento mais importante a ser analisado é o fator pessoa, ou seja, os protagonistas da conversa; pois são eles os principais responsáveis pelo nível intelectual que a conversa atingirá. Para representar melhor a situação, imaginemos duas possíveis conversas de elevador: Uma entre dois bêbados e a outra entre Bertolt Brecht e Friedrich Nietzsche. Torna-se clichê dizer que ocorrerá uma discrepância entre os dois diálogos. Um, certamente será o oposto do outro. Sendo assim, pode-se dizer que o nível intelectual de uma conversa de elevador será determinada pelo nível de seus passageiros.

A problemática - que impede que o elevador seja um meio de transporte como qualquer outro - está relacionada à capacidade do elevador em promover a sociabilidade entre seus passageiros. Quase sempre a conversa inicia com o discurso cotidiano e recai no jornalismo de serviço, como a previsão do tempo, o trânsito, tragédia...

Portanto, precisamos romper os paradigmas que envolvem o diálogo no interior do elevador para não ficarmos presos ao discurso espúrio e não cair numa generalização do diálogo, o que nos leva a abnegar de um pensamento reflexivo e crítico sobre os fatores que determinam o nível dos devaneios que ocorrem no interior desse ambiente que abriga as conversas mais insólitas que existem.


Imagem: Zaqueu Fogaça

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