Por Giselle Olmedo
Ontem eu estava na Rua Augusta, uma das vias mais alternativas da cidade. Sentada num banquinho, tomando açai e comendo esfiha de soja com um grande amigo, eis que me passa um rapaz, aparentando uns 25 anos, com um casaco no estilo grunge, calça jeans e chinelo "havaianas". O rapaz em questão é morador de rua e catador de latinhas na região do centro novo.
O que mais me chamou a atenção nesse moço foi o fato dele fuçar o lixo com luvas. Sim, aquelas luvas cirúrgicas, de hospital. Não me contive e comecei a conversar com ele. Questionei quanto ele ganhava catando latinhas e vendendo papelão. Ele não quis me falar (será que ficou com medo de que eu furasse o negócio dele? rs). Porém, meu objetivo maior era entender o porquê das luvas.
Eduardo, 27 anos, me explicou que já teve um grande problema com um germe, que infectou um de seus dedos quando fuçava material para venda no lixo. Daí, o grande motivo do "adereço". Infelizmente, o rapaz possui somente três pares, que conseguiu no hospital em que foi tratar o tal dedo polegar. Ele as reutiliza. Claro que o resultado não é o esperado, porém, é a maneira que ele viu para se proteger da sujeira paulistana.
Naquele momento, várias dúvidas passaram pela minha cabeça que, claro, não expus ao rapaz, mas conversei com meu amigo. O que leva um jovem, da minha idade, a estar naquele lugar e se sujeitar a uma situação destas? Por quais motivos ele não busca trabalho ou uma vida nova? Será que estas oportunidades são dadas à ele?
O paulistano convive com tantos personagens, o tempo todo. Um lugar frequentado por pessoas que tem alguma condição de se divertir, mesclado à moradores de rua que tentam se proteger como podem dos perigos urbanos. Cabe um olhar mais apurado, buscando conscientização. Cabe cobrar dos governantes, cabe conversar com essa galera da rua pra entender suas reais necessidades e fazer despertar neles a vontade de mudar.
O moço não estava a fim de muito papo naquele domingo quente em Sampa. Porém, antes de ir embora, esfiha de soja e açai pro Eduardo, que educadamente, ele nos pediu. Cinco minutos de refeição, um "muito obrigado, moça e moço", e lá se foi o morador de rua. Mais um entre tantos na metrópole que nunca para.
Imagem: www.portalruaaugusta.com.br
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